Por Caroline Camargo, Victória Goldenfum e Layon Lopes*
A descrição que estamos presenciando na mídia, sobre as políticas governamentais adotadas na China para combate e prevenção do novo coronavírus, o COVID-19, podem ser comparadas a verdadeiras cenas de guerra. O próprio presidente da China, Xi Jinping, e seu governo vem denominado a presente crise como “people’s war”, ou seja, a guerra das pessoas.
O combate à epidemia pulmonar causada pelo coronavírus, vem causando grandes instabilidades sociais, políticas e econômicas ao redor do mundo. Inclusive tendo os primeiros caso da doença confirmados no Brasil na última semana.
Mas voltando para o epicentro desta crise, resta claro que neste momento o governo do partido comunista chinês, o qual se encontra no poder atualmente, possui dois grandes desafios centrais: conter (e com esperanças eliminar) a propagação do COVID-19, como também retomar a engrenagem econômica do país, em um estado de verdadeira quarentena nacional.
O grande e principal fator da presente crise é a atual falta de tratamento efetivo para combater esta infecção, o que gera o efeito do isolacionismo da população chinesa. Uma vez que ainda não foram desenvolvidas vacinas para contenção da epidemia, os trabalhadores do país devem permanecer em casa, esvaziando a indústria e o comércio. É estimado que cerca de 760 milhões de pessoas no país tenham entrado em alerta de quarentena, ou seja, mais da metade da sua população.
Uma vez que as fábricas não estão em funcionamento, o que vai acontecer com uma das maiores economias do mundo?
A interdependência complexa, grande teoria que tece as relações internacionais, demonstra com clareza as consequências econômicas do enfraquecimento do comércio com a China: o crescimento econômico mundial vai decair e o resultado deste choque será sentido em todo mundo no decorrer dos seguintes trimestres deste ano.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização intergovernamental que busca estimular o comércio mundial, divulgou nesta segunda-feira um estudo estabelecendo os primeiros impactos da crise. Sua previsão atual reduziu em 0,5% o crescimento do PIB mundial para 2020, caindo a taxa estimada de 2,9% para 2,4%. A OCDE informou que este é o nível mais baixo avaliado desde a grande recessão de 2009.
Ao ressaltarmos que a China é a segunda maior economia do mundo, com uma participação de 16% no PIB mundial e sendo o principal parceiro econômico do Brasil no que tange às exportações de bens, voltamos o presente cenário para a seguinte pergunta: mas qual é o impacto disso no Brasil?
Pelo fato da China ser um dos principais parceiros comerciais, a epidemia impacta nas cadeias de suprimentos, bem como certa estagnação de produção da indústria nacional por falta de disponibilidade de peças, condiciona também a queda das bolsas no mercado de ações e a queda do preço dos commodites.
Em resumo, a China produzindo menos irá, consequentemente, comprar menos e é aí que o Brasil também será impactado: no nível de suas exportações. Com base em dados do ano de 2019, quase 30% de tudo que o Brasil vendeu para o exterior teve-se a China como destino final.
Porém as preocupações não param por aí:
PIB DO BRASIL – Por consequência, a queda no PIB chinês e a desaceleração da economia do país asiático também afetam o Brasil. Para diversos bancos e consultorias, o país terá de revisar sua projeção do crescimento econômico em 2020 e estes já estimam que o crescimento não deve ultrapassar 2%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, divulgada em 21 de fevereiro deste ano.
COMMODITES – Em relação a contratos de compra e venda de produtos como soja, petróleo e minério de ferro, estes costumam ser fechados com meses de antecedência e não sofreriam os impactos da crise em curto prazo, mas caso o surto se estenda nos próximos meses, será possível avaliar os impactos no setor de commodities também.
No setor alimentício das carnes, já é possível prever um possível aumento nos seus pedidos, pois o novo coronavírus também tem afetado granjas em regiões em quarentena na China, que em consequência, impulsionaria um possível crescimento na demanda chinesa de compra de carne brasileira.
TECNOLOGIA – Em relação a tecnologia, a China é a principal mercado provedor de insumos para a indústria brasileira, possuindo papel relevante como fornecedor de tecnologias e produtos eletrônicos. Exemplos de fábricas da LG, Motorola e Samsung do Brasil, estão com a produção de celulares suspensa atualmente por problemas no recebimento de materiais da China.
EMPRESAS E MERCADO DE AÇÕES – Muitas empresas multinacionais como Apple, Microsoft, AB InBev, Mastercard, Toyota, Danone e outras mais, já alertaram que o surto afetará seus balanços financeiros.
Sem previsões dos efetivos resultados da crise global em voga, o cenário de instabilidade deve manter-se. O melhor exercício a ser realizado neste momento pelos governos é efetivamente realizar a verificação da extensão de seus efeitos e preparar a contrarresposta necessária para promover o retorno do crescimento.
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*Lopes é CEO do Silva | Lopes Advogados. Camargo é colaboradora do escritório e administradora e Goldenfum é colaboradora do escritório e internacionalista.