A tão sonhada marca de valor de mercado igual ou superior à US$ 1 bilhão é almejada por todos, mas alcançadas por poucas empresas. A primeira startup brasileira a conquistar tal feito é a 99, ao ser comprada pela chinesa Didi Chuxing, no início de 2018.
De lá para cá, mais empresas brasileiras do setor de tecnologia e inovação alcançaram a marca. Somente em 2019, o Brasil teve cinco novos unicórnios, segundo o levantamento Corrida de Unicórnios 2020, elaborado pela empresa Distrito. O aumento deste seleto grupo levou o país a se tornar o terceiro com mais startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.
De acordo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), atualmente, são 11 unicórnios brasileiros: PagSeguro, Stone Pagamentos, Ebanx, Arco Educação, Loft, Nubank, Loggi, iFood, Gympass, 99 e QuintoAndar.
Este grupo é dominado por startups do setor financeiro, com quatro representantes. Os setores de educação, e-commerce, imobiliário, logística e mobilidade urbana, saúde e bem-estar, tic e telecom e, o último, transportes, contam com uma empresa cada.
A maioria das startups que compõem o grupo de unicórnios são sediadas em São Paulo (nove), uma em Barueri e outra em Curitiba. A capital paulista é o coração financeiro do Brasil, e com o ecossistema de tecnologia e inovação não seria diferente.
No Estado de São Paulo há 3.798 startups, sendo 2.643 na capital. Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), José Muritiba, São Paulo é o maior polo econômico e por isso concentra os principais elementos para o desenvolvimento de um negócio: os principais players do mercado, fundos de investimento, hubs de inovação, acesso a tecnologia e talentos. “Isso acaba atraindo inclusive muitas startups que buscam avançar para uma fase de scale-up. Não é a toa, que não só os unicórnios, como a grande maioria das startups do país, se concentrem na cidade (hoje, das 12.800 startups mapeadas, São Paulo é a primeira cidade em concentração)”.
Novos celeiros – O diretor da associação acredita que outras cidades brasileiras também possuem potencial para se tornarem novos celeiros de unicórnios. “Apesar de São Paulo ainda ocupar a primeira posição na concentração e maturidade das startups, outras capitais tem se destacado muito no cenário empreendedor nos últimos anos como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis. Além disso, o Brasil com sua extensão territorial tem muita oportunidade de talentos espalhados fora das capitais e dos grandes centros com grandes perspectivas de desenvolvimento nos próximos anos”, comenta Muritiba.
Novos unicórnios em 2020 – O ano mal começou e já tem seu primeiro unicórnio. Trata-se da Loft, que atua no mercado de imóveis. A startup foi criada em 2018, em um ano de grandes desafios e incertezas para a economia brasileira, e atuava apenas em alguns bairros da capital paulista. “Apesar do momento que a economia enfrentava, um dos mercados que se mostrou aquecido foi o imobiliário, não só em São Paulo, mas em todo o país. O nosso modelo de negócio por si só apresenta uma oportunidade enorme em mercados emergentes, o que contribuiu para que o nosso crescimento fosse acelerado. A Loft chegou para reinventar o mercado imobiliário e desde o início acreditávamos no potencial de expansão”, um dos fundadores e co-CEO da Loft, Mate Pencz.
O rápido crescimento da empresa chamou atenção de investidores, fazendo com que a a Loft realizasse uma série de rodadas de aporte. “A mais recente, em series C, arrecadou US$ 175 milhões, reforçando que o mercado está confiante na viabilidade a longo prazo e escalabilidade de nossa plataforma”, conta o co-CEO da empresa.
Atualmente, a startup está presente em mais de 20 bairros e com planos de expansão para outras regiões da cidade, além do Rio de Janeiro e da Cidade do México. “Acompanhamos as mudanças do mercado de perto e investimos em novas tecnologias e análise de dados, e ampliamos nosso portfólio, oferecendo também apartamentos de menor metragem e serviços financeiros. Começamos 2019 com 100 funcionários e crescemos para mais de 450 – nossa expectativa é chegarmos a mais de 550 até o primeiro trimestre de 2020”, explica Pencz.
Para ele, a capital paulista é “uma cidade multifacetada que atrai perfis diferentes, e essa diversidade cria um ecossistema extremamente propício para inovação. Com mais de 12 milhões de habitantes, o estilo de vida cria oportunidades em diversos segmentos, desde a oferta de serviços e produtos que facilitam o dia a dia das pessoas até a possibilidade de explorar mercados específicos e isso atrai empreendedores. Há muitas oportunidades e bons projetos, acredito que o segredo seja traçar um plano de negócio coerente para fazer as ideias saírem do papel”.
Páreo – O levantamento do Distrito aponta que dez empresas estão no páreo das startups mais promissoras a alcançarem o status de unicórnio. As aspirantes são fintechs Conta Azul, Creditas e Neon; as adtechs Olist, Vtex e Resultados Digitais; a healthtech Dr.Consulta; a proptech MadeiraMadeira; do setor de mobilidade, a Buser, e, por fim, representando o setor de logística, a CargoX.
Para Muritiba, as candidatas são Cargo X, Creditas, Resultado Digitais, Grow, C6 Bank e Sympla.
O diretor executivo da ABStartups acredita que não há uma fórmula secreta para uma empresa se tornar um unicórnio e que a incerteza faz parte do negócio. “Porém, unicórnios vem a partir de dois fatores importantes: investimento e uma startup já em fase de scale-up. Isso porque para alcançar níveis maiores de maturidade é preciso que a startup tenha um modelo de negócio estabelecido e sustentável, com alto grau de crescimento (em torno de 20% ao ano), um produto escalável e um mercado validado. E para alcançar o valuation de US$1 bilhão e conquistar o título de unicórnio, as empresas abrem rodadas de investimento (IPO) e recebem aportes de fundos de investimento para seu negócio”, explica Muritiba.
Já o co-CEO da Loft ressalta que empreender é sinônimo de muitos desafios e ter pessoas certas no time é um grande diferencial. “Saber onde se quer chegar, planejar cada passo e estar preparado para as mudanças ajuda a superar alguns desafios, uma vez que o mercado é muito dinâmico. Acredito que não há atalhos, o processo natural das boas ideias é se transformarem em sucesso rapidamente”, recomenda Pencz.
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