- Por Lucas Euzébio e Layon Lopes*
Antes de introduzirmos o conceito de legal design, é importante elucidarmos para o leitor o que é o design thinking – método amplamente utilizado em empresas de base tecnológica desde a concepção da ideação, “pivotação” da mesma e construção do MVP, que conta com a validação de problema, solução, etc.
A metodologia do design thinking ganhou vida de forma notória com o lançamento do livro “Design Thinking – Uma Metodologia Poderosa Para Decretar o Fim das Velhas Ideias” no Vale do Silício, dos professores David Kelley e Tim Brown.
Em resumo, o design thinking é uma poderosa ferramenta para resolução de desafios complexos, conforme desenho abaixo.
O legal design é a junção das áreas do Direito, Tecnologia e Design, e é inspirado no próprio design thinking, sendo um processo aplicado em diversos mercados a fim de descobrir e resolver problemas com novas soluções. Ele possui algumas fases/etapas para sua abordagem prática:
- Descoberta;
- Definição;
- Ideação;
- Experimentação e
- Evolução.
Em resumo, a descoberta é a fase onde será definido o problema que será resolvido e se esse é relevante, passando para a segunda fase, onde o problema deve sair do macro, buscando uma abordagem da solução do problema de forma prática e com foco. Muitas vezes o problema pode ser maior do que se imagina e, neste momento, não se possuir todas as ferramentas ou “braço” para resolver o problema como um todo. Logo, comece resolvendo o maior problema, focando no que realmente importa.
Na terceira fase, iremos buscar a solução do problema. Após a validação do problema, é preciso idealizar qual será sua solução, sendo importante neste ponto não se prender a padrões do que costuma funcionar ou a estereótipos, buscando a validação da solução baseada em dados, ou seja, metrificando com o seu público alvo se aquela solução proposta tem fit com o problema e se o mesmo está disposto a pagar por ela e quanto.
Na quarta fase, vamos para a construção de um MVP (mínimo produto viável), ou seja, construir o produto e colocar a solução para o mercado e testar a aceitação. Neste momento, não se preocupe em ter toda a solução pronta, afinal, erros irão acontecer e ajustes serão importantes.
E por fim, temos a fase da evolução, que é uma fase contínua onde, a partir dos feedbacks e prática do dia a dia será possível perceber se está funcionando ou não. Podemos dizer que todos estes passos compõem um ciclo virtuoso, pois, caso a solução jurídica apresentada não esteja evoluindo, talvez seja o momento de dar um passo para trás e entender se o problema e a solução foi validada corretamente.
O legal design visa a tomada de decisões estratégicas, baseada em dados e, sobretudo, a simplificação de processos e facilitação da vida do cliente, devendo o advogado pensar em toda esta cadeia.
Um exemplo prático: é comum para o operador do Direito lidar em seu dia a dia com clientes que não entendem muito sobre o Direito em si. Logo, para resolver este problema, o advogado pode utilizar o legal design para criar infográficos, fluxogramas, apresentações, ou outros recursos tecnológicos para facilitar o entendimento do cliente ou até de outro advogado que não atue com determinada matéria. Por isso é falado em três pilares: Tecnologia, Direito e Design.
Não menos importante, todo este processo de legal design thinking deve ser pautado sempre na compreensão e empatia ao cliente. Sendo imprescindível ouvir diretamente do cliente quais são seus problemas, interesses e necessidades, pois só assim o advogado conseguirá realmente criar ou buscar as soluções mais adequadas para determinado caso.
Por fim, no livro “The Rapid Embrace of Legal Design and the Use of Co-Design to Avoid Enshrining Systemic Bias“₁ em tradução livre: “O rápido abraço do design jurídico e o uso de co-design para evitar preconceitos sistêmicos consagrados” lançado em 2020 pela autora Margaret Hagan₂ e outros diversos autores, é explicado que:
“It has now come to the legal system, together with movements related to legal technology, legal hacking, and acess to justice reform, as a colletive legal design movement.
University, labs, conferences, classes, and new job positions are oriented around “legal design” – the marriage of a humam-centered design approach to the challenges and structures of the legal system.
These parameters can ensure honest reflection on how well the design approach can serve the legal system, improve people’s acess to justice, and promote innovation in the professional community.”
Em livre tradução:
“Chegou agora ao sistema jurídico, juntamente com os movimentos relacionados com a tecnologia jurídica, hacking legal e reforma do acesso à justiça, como um movimento de desenho jurídico coletivo.
Universidade, laboratórios, conferências, aulas e novos cargos são orientados em torno do “desenho legal” – o casamento de uma abordagem de design centrada no homem para os desafios e estruturas do sistema jurídico.
Esses parâmetros podem garantir uma reflexão honesta sobre como a abordagem do design pode servir ao sistema jurídico, melhorar o acesso das pessoas à justiça e promover a inovação na comunidade profissional.”
É importante frisar que não existe fórmula pronta e que várias metodologias podem ser aplicadas, pois tudo irá depender da necessidade do cliente. Porém, os métodos adotados devem ser colaborativos, visuais, simples e ágeis.
Dúvida? A equipe do Silva | Lopes Advogados pode te ajudar!
*Lopes é CEO do Silva | Lopes Advogados e Euzébio é integrante do time do escritório.
__________________________
₁ The Rapid Embrace of Legal Design and the Use of Co-Design to Avoid Enshrining Systemic Bias. HAGAN Margaret. Massachusetts Institute of Technology. Design Issues: Volume 36, number 3, 2020.
₂ Margaret Hagan is co-guest editor and co-cover designer for this special issue, “The Rise of Legal Design,” of Design Issues (vol. 36, no. 3 Summer 2020). Margaret is the director of the Legal Design Lab and a lecturer at Stanford Institute of Design (the d.school). She was a fellow at the d.school (2013–2014), where she launched the Legal Design Lab, experimenting in how design can make legal services more usable, useful & engaging. She holds an AB from the University of Chicago, an MA from Central European University in Budapest, a PhD from Queen’s University Belfast in International Politics, and a JD from Stanford Law School.