Como montar uma Corporate Venture Capital?

Formato é uma alternativa interessante para que grandes companhias consigam casar seus interesses com startups

Como montar uma Corporate Venture Capital? Como montar uma Corporate Venture Capital?

Por Tiságoras Mariani, Lucas Euzébio e Layon Lopes*

O mercado de startups está passando por um momento muito delicado, o que torna ainda mais desafiador a busca por investimentos no segmento de tecnologia, que em 2022 ficou em US$5,2 bilhões, enquanto em 2021 o investimento foi de US$10,5 bilhões. Uma alternativa ao empreendedor é a busca de investimento através de Corporate Venture Capital (CVC) – uma forma de investimento que está crescendo constantemente e atraindo cada vez mais interessados em realizar investimentos, pois é uma forma da grande empresa buscar, através de uma startup, meios para inovar o seu modelo de negócio e impulsionar o seu crescimento. 

Com o aumento de interessados, torna-se cada vez mais frequente a pergunta: Como montar uma Corporate Venture Capital?

 

Conteúdo:

Qual a diferença de investimento via CVC e as outras modalidades?

Qual é o cenário atual do Corporate Venture Capital no Brasil?

Quais são os objetivos do Corporate Venture Capital?

Quais são os formatos de Corporate Venture Capital

Como constituir uma Corporate Venture Capital?

Quais as dificuldades para realizar uma Corporate Venture Capital?

Mas, dito tudo isso: vale a pena realizar uma Corporate Venture Capital?

 

A Corporate Venture Capital (ou CVC, como é conhecida) é um fundo criado por uma grande empresa (corporate) que possui objetivos diversos, desde agregar produtos e serviços ao seu portfólio, como o de investir em startups para obter acesso à tecnologia e modelo de negócio que esta grande empresa, internamente, não conseguiria realizar. Desta forma, a empresa estará realizando uma conexão direta do seu negócio com as tendências inovadoras de mercado, preparando-se para disrupções futuras e gerar novos negócios.

Basicamente, um investimento através de uma CVC é o aporte de um valor em troca de uma participação minoritária no quadro social da startup, fintech ou empresa de tecnologia, como um contrato de mútuo conversível em participação societária. De acordo com o relatório da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), o foco dos investimentos CVC continue sendo em empresas que estão num estágio de Seed e Early-Stage.

Qual a diferença de investimento via CVC e as outras modalidades?

Existem diversos tipos de investimento em startups, fintechs ou empresas de tecnologia, como investimento-anjo, private equity, M&A, etc.Cabe destacar que o aporte realizado por uma Corporate Venture Capital é realizado através de uma pessoa jurídica, e não pessoa natural como um investimento-anjo.

Conforme já demonstrado, o investimento via CVC é feito em startups seed e early-stage, e não em empresas mais consolidadas – como é o private equity. Uma operação de M&A é realizada em empresas que já possuem modelo de negócio consolidado e previsibilidade de crescimento, o que não é o caso das empresas em estágio seed e early stage, que carecem de resultados concretos.

Ou seja, o investimento via CVC é realizado naquela startup inovadora, que possui um grande potencial de crescimento e, ao mesmo tempo, possibilita à grande empresa receber um retorno estratégico, sendo este o grande diferencial.

Qual é o cenário atual do Corporate Venture Capital no Brasil?

Recentemente, publicamos em nosso canal no Youtube, o Canal SL, um vídeo sobre a escassez de investimento de Venture Capital no Brasil, principalmente com a crise que o mercado de tecnologia vem enfrentando nos últimos tempos. 

O ponto principal é que esta escassez está gerando uma grande oportunidade para as grandes empresas solucionarem problemas internos por um custo relativamente baixo e que pode lhe render grandes frutos no futuro. O relatório apresentado pela ABVCAP indicou que, somente em 2022, 13 empresas listadas na bolsa de valores lançaram seus próprios fundos de investimento e que, juntas, anunciaram possuir mais de R$3 bilhões em capital comprometido.

Ademais, recentemente foi publicado no site InfoMoney que a maioria dos Corporate Venture Capital esperam realizar até seis investimentos por ano. Em 2021, mais de US$2 bilhões foram investidos em Corporate Venture Capital no Brasil. De acordo com o CNI, esse fenômeno, ocorrido em meio à pandemia, pode ser interpretado como consequência da combinação de taxas de juros muito baixas e a injeção de liquidez realizada por diversos países para conter os impactos econômicos adversos causados pela covid-19, tornando o investimento de risco uma opção para muitos investidores e corporações.

Se compararmos o valor com a visão geral de mercado, é lógico que existe um longo caminho a percorrer, mas é inegável que este mercado está aderindo cada vez mais interessados por estar se mostrando, sobretudo, uma medida barata que resolve problemas e traz retornos financeiros no longo prazo.

Quais são os objetivos do Corporate Venture Capital?

Os objetivos de realizar um investimento via Corporate Venture Capital vão muito além do aspecto financeiro. Através deste formato, as corporates desenvolvem relacionamentos com startups, fintechs e empresas de tecnologia de forma que a inovação e o método disruptivo apresentado complementam os esforços internos da investidora, que passa a acessá-las para potencializar o seu negócio e, por consequência, aumentar suas receitas. 

O investimento via Corporate Venture Capital (CVC) alavanca as estratégias de inovação e acelera processos de experimentação em novos mercados, gerando desde a co-criação de novos produtos, serviços, aproveitamento de recursos, consolidação de atuação em segmento de mercado, aquisição de talentos e de know-how, modificação de mindset, até redução de custos de produção.

Desta forma, é possível afirmar que toda e qualquer empresa, seja qual for o segmento, em maior ou menor escala, está adotando medidas tecnológicas para melhorar e facilitar o seu cotidiano, e justamente por isso que as Corporate Venture Capital (CVC) podem ser utilizadas como uma ferramenta para auxiliar na transformação digital, inovação e consolidação das empresas nos mais diferentes mercados, desde uma indústria do agronegócio até um restaurante.

Quais são os formatos de Corporate Venture Capital?

Existem dois formatos de Corporate Venture Capital: Interno e Externo. O primeiro diz respeito ao fomento de iniciativas internas – o chamado “intraempreendedorismo”, que consiste em encontrar oportunidades de empreender e inovar dentro da própria empresa. Neste cenário, a investidora aposta no empreendimento gerado dentro da própria empresa, por algum de seus colaboradores.

Este processo incentiva os colaboradores da empresa a pensarem de forma disruptiva e inovadora, apresentarem novas ideias que estejam atreladas às necessidades identificadas na empresa ou no mercado. O formato de Corporate Venture Interno pode ocorrer, por exemplo, por meio de uma incubadora, onde se cria espaço com estrutura adequada para desenvolver projetos e ideias.

Já no formato de Corporate Venture Externo, grandes empresas possuem o intuito de se aproximar do ecossistema empreendedor externo e investir em startups, aceleradoras e incubadoras. Com a Corporate Venture Externo, o potencial de criação e inovação pode ser ainda maior para a investidora, que terá acesso à tecnologia e know-how das startups, fintechs ou empresas de tecnologia envolvidas.

Como constituir uma Corporate Venture Capital?

O primeiro passo para constituição de uma CVC é a definição de qual será a chamada “tese de investimento”. Em outras palavras, é preciso definir: 

  • Onde investir (local);
  • O que investir? Serão aportados valores ou smart money;
  • Como será o seu processo de deal flow – termo utilizado para descrever a taxa na qual as propostas de negócios e os arremessos de investimento estão sendo recebidos;
  • A postura no acompanhamento da startup, se estará disponível auxiliando na operação, ou se mais conservadora, mediante o requerimento de relatórios periódicos, reuniões formais, etc.
  • A definição dos pontos supramencionados leva tempo e são muito mais importantes do que a estruturação jurídica do Corporate Venture Capital, que é para ser a última parte do processo.

Dentro de uma operação de investimento de Corporate Venture Capital, é comum que a companhia já possua áreas internas muito bem desenvolvidas e que podem ser essenciais para a startup, fintech ou empresa de tecnologia dentro do seu processo de escala, como máquina de vendas, serviços jurídicos, contábeis, financeiros, todo o backstage de sustentação. Tais áreas podem até parecer invisíveis para grandes companhias, mas para empresas de tecnologia representam um valor estratégico fundamental a depender do momento em que a mesma se encontra.

O formato mais operado e difundido em mercado, quando o assunto é a constituição de uma Corporate Venture Capital, é a criação de uma estrutura separada e totalmente independente, societária e operacionalmente, das corporações/companhias em si. Podemos citar como exemplos de sucesso no mercado de grandes empresas que adotam este formato: a Meta, empresa global que possui seu braço de CVC chamado “Meta Ventures”, Randon, com a “Randon Ventures”, “Inovabra Ventures” do Banco Bradesco, “BB Ventures”, do Banco do Brasil, “Vivo Ventures”, da Vivo, etc.

No que tange à parte jurídica da montagem de uma Corporate Venture Capital, é importante esclarecer que o primeiro passo é a constituição de uma sociedade independente, específicas para a finalidade, para que a Corporate Venture Capital seja focada no objeto que desenvolve e, ao mesmo tempo, não necessite de uma governança rígida de aprovação de cada movimento estratégico de investimentos – o que é muito comum em grandes companhias, principalmente listadas em bolsa de valores.

A sociedade constituída para atuar como Corporate Venture Capital pode ser uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), uma Sociedade Limitada (LTDA), Sociedade Anônima (S.A). A empresa também poderá ser constituída como um Fundo de Investimento em Participações (FIP), mas será regulada pelas Instruções nº 578 e 579 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O estudo da ABVCAP indica que a estruturação dedicada como um FIP traz mais benefícios em relação à segurança jurídica e também na seara tributária, visto que a tributação FIP é inferior, o que torna a relação mais benéfica para os envolvidos.

Em um momento operacional e de seleção de startups, é crucial que exista um alinhamento de expectativas nas estratégias e resultados que o Corporate Venture Capital espera frente à startup, fintech ou empresa de tecnologia. Existem Corporates Venture Capital que estão focadas, tão somente, no retorno financeiro da startup, enquanto outras estão preocupadas com a maturidade do produto e serviço, que possui todos os indicativos de que irá solucionar um problema na companhia que, por consequência, lhe trará muitos frutos, seja na seara comercial como, também, seja na seara operacional. Independentemente de qual for, será gerada uma oportunidade para a corporate potencializar o seu negócio.

Quais as dificuldades para realizar uma Corporate Venture Capital?

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa de que a maior dificuldade está relacionada em encontrar startups com soluções adequadas para as demandas da empresa, que na realidade é o foco estratégico de uma CVC. Abaixo, apresenta-se o gráfico:

Como podemos ver, a legislação brasileira é um grande impeditivo para a captação de investimentos, no entanto, a dificuldade de encontrar empresas que, de fato, resolvam problemas, é o principal objetivo de todo o contexto.

Mas, dito tudo isso: Vale a pena realizar uma Corporate Venture Capital?

Sim. O Corporate Venture Capital se mostra como alternativa interessante para que grandes companhias consigam casar os seus interesses com startups, fintechs e empresas de tecnologia, ao promovendo mutuamente a criação e escala acelerada de novos produtos e serviços, inovação, bem como a exploração de novos mercados, ainda que o mercado de tecnologia esteja em baixa e as CVCs estejam com dificuldades em encontrar empresas que resolvam seus problemas, porque isto é um risco inerente do investimento.

O investimento através de Corporate Venture Capital possibilita que startups foquem no seu verdadeiro objetivo, que é o produto. Logo, a startup deixa que o investimento em estrutura interna, contratação de pessoas e outras atividades que não estejam inerentes à atividade principal fiquem à cargo da corporate.

Dúvidas? A equipe do Silva Lopes Advogados pode te ajudar!

*Lopes é CEO do Silva Lopes Advogados, Euzébio é sócio e Mariani é integrante do time do escritório.