Por Paola Martins, Pedro Branco e Layon Lopes*
O mercado de fintechs encontra-se em franca expansão nos últimos anos. Segundo a Distrito, o investimento global em fintechs no ano de 2021 foi de US$114,9 bilhões em 4,72 mil deals. A toda evidência, com o aumento dos índices e números envolvidos neste segmento, eleva-se também a régua de habilidades dos profissionais que nela se inserem, não apenas técnica, mas, considerando o ágil ambiente de pressão e tomada de risco que se desenha, as soft skills destacam-se com relevância.
Esta necessidade de foco em desenvolvimento de competências que vão muito além da mera técnica, considerando o cenário de um mercado aquecido e dinâmico como é o das fintechs, se faz necessário não apenas para o empresário, mas também aos colaboradores da empresa, em todas as suas áreas, inclusive na área do jurídico interno.
Por isso, preparamos um material completo sobre as soft skills que todo bom advogado que atua no jurídico de fintech deve desenvolver e aprimorar para se destacar no ecossistema de tecnologia e inovação. Confira:
Conteúdo:
Nova realidade
Setor jurídico precisa se adaptar a realidade do ecossistema de fintech
Quais são as principais soft skills que a equipe do jurídico de fintech deve possuir?
Nova realidade
Os advogados que atuam no jurídico de fintech devem estar preparados para lidar com desafios diários não apenas em nível de performance técnica (hard skills), mas também, e, muitas vezes, principalmente no âmbito das habilidades de relacionamentos humanos, gestão emocional e liderança. Essas habilidades são, em sua totalidade, pertencentes à gama de mais elementares soft skills a serem fomentadas.
O investimento em soft skills, em qualquer segmento, mas em especial para aqueles profissionais que desejam atuar ou já atuam no setor, é essencial.
Não é novidade que o mercado jurídico se encontra saturado de profissionais. O país contava, em agosto de 2022, com 1,3 milhão de advogados. Exercendo a profissão no período, o número girava em torno de 212,7 milhões de pessoas, em uma média, portanto, de 1 advogado a cada 164 habitantes. Em termos comparativos, cumpre ressaltar que nos Estados Unidos, onde existem os mesmos 1,3 milhão, estes estão diluídos em uma população de 329,5 milhões de pessoas.
Diante deste cenário, para além das habilidades técnicas, os profissionais do mercado jurídico, principalmente em fintechs, passam a dar especial atenção às chamadas soft skills atreladas à profissão.
Como já é jargão de mercado, as pessoas são, cada vez mais, contratadas por suas habilidades técnicas (hard skills) e demitidas por suas habilidades interpessoais (soft skills). Quando falamos em departamento jurídico de fintech, a máxima é válida.
Setor jurídico precisa se adaptar a realidade do ecossistema de fintech
As carreiras jurídicas, inclusive a de gestores jurídicos, são algumas das mais tradicionais carreiras do Brasil e do mundo. Por isto mesmo, este mercado acaba por sofrer maior resistência ao falarmos de inovação e novas habilidades. É possível perceber essa resistência à adaptação. Podemos citar como exemplo, no cenário pós pandemia de covid-19, o movimento de retomada de escritórios de advocacia em todo o Brasil do regime presencial de trabalho, bem como a retomada das audiências e atividades presenciais no judiciário como um todo, em que pese o sistema eletrônico e remeto tenha se mostrado capaz de funcionar pelos últimos anos pandêmicos que enfrentamos.
Para além de dominar as leis e navegar com maestria pela doutrina e jurisprudência, passa a ser frequentemente exigido de advogados e do gestor de departamento jurídico, em especial em fintechs, novas habilidades, como: propósito, relações interpessoais, gestão emocional, liderança, administração do estresse, autoconhecimento, responsabilidade, resiliência, dentre outras.
Assim como o perfil dos clientes acompanham a evolução da sociedade na qual estamos inseridos, tornando-se mais dinâmicos, os desafios que eles enfrentam também se modificam a todo o tempo, exigindo profissionais do direito que sejam adaptáveis e gozem de diversas soft skills em sua carteira de habilidades.
Quais são as principais soft skills que o gestor de departamento jurídico deve possuir?
Dentre as principais soft skills a serem desenvolvidas por todo o profissional do direito, em especial por aqueles que atuam em jurídico de fintech, destacamos: liderança, relacionamentos humanos, gestão emocional e autoconhecimento. Vejamos, cada uma:
- Liderança
Todo o ambiente corporativo necessita de líderes conscientes e que inspirem seus liderados a querer mais, sempre. Aqui, o sentimento de dono do negócio destaca-se, uma vez que o verdadeiro líder precisa sempre inspirar através de seu exemplo.
Neste sentido, o advogado de uma empresa tem o papel de fazer a interface entre todas as partes relacionadas envolvidas na atividade da empresa: seus sócios e diretores, mediante a gestão de pessoas, sejam outros advogados, estagiários, administradores ou outros prestadores de serviços. Desta forma, o profissional tem diante de si um campo fértil para auxiliar a empresa a alçar voos maiores, de forma mais sólida e segura.
Para alcançar tal objetivo, é necessário desenvolver a soft skill de liderança – que é inerente ao papel de profissional do setor de tecnologia e inovação em geral. Cumpre notar, primeiramente, que o mais legítimo ato de liderança consiste no ato de liderar a si mesmo.
Como a liderança é exercida, em larga escala, através do exemplo, aquele que sequer consegue desenvolver a habilidade de realizar sua própria gestão, de assumir suas responsabilidades, e de manter-se fiel consigo mesmo, dificilmente conseguirá inspirar equipes inteiras em uma direção específica.
Aí reside a diferença abismal que separa os líderes dos chefes: os primeiros inspiram, os segundos comandam. É intuitivo concluir qual deles consegue levar mais pessoas e trilhar caminhos mais longos, certo? Vamos muito mais longe quando temos vontade.
A liderança se manifesta de várias formas, e pode ser construída através de resiliência e autoestudo constantes. Como todas as demais habilidades, está soft skill pode até ser um dom nato para alguns. Entretanto, para todos os outros, ela é construída dia após dia, conforme vamos conforme os desafios ou obstáculos vão surgindo ao longo da trajetória ao longo do caminho.
Mesmo que se direcione esforços no sentido de formação de lideranças dentro de uma empresa, é importante que o advogado tenha em mente que o desenvolvimento desta soft skill “é um processo que nasce internamente no indivíduo e expande-se em um diálogo com a sociedade”, de acordo com a definição de Fabiano Defferrari Gomes no livro “Liderança movida pelo propósito”, publicado no ano passado pela Alta Books Editora.
Assim, a liderança não é, na maioria dos casos, nata, podendo (e até mesmo, devendo, caso assim se deseje) sem exercitada e posta a prova em atividades do dia a dia, para ser desenvolvida mais e mais.
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Relacionamentos humanos
Erroneamente, as faculdades de direito tendem a, em um currículo informal, estimular o arquétipo do advogado solitário, que se basta, que sozinho é capaz de dominar o mundo. Criando, desta forma, a ilusão que o profissional não precisa de equipe alguma, que consegue solucionar todos os problemas sem pedir ajuda, e que compete, a todo o tempo, com todo o mundo. O clássico “advogado tubarão”.
É fácil perceber, entretanto, que a lógica da competitividade se encontra cada vez mais superada pela cooperação e pelo paradigma do ganha-ganha (como ensina o Dr. Stephen R. Covey). No ambiente empresarial isto é ainda mais latente e pode ser verificado por todos os profissionais do direito que adentram o mercado de fintechs.
Tornando, desta forma, a habilidade de manter bons relacionamentos humanos essencial para o bom advogado de um jurídico de fintech. Ao inserir-se em um time, é necessário focar que todos estão no mesmo barco, remando para o mesmo destino. É preciso agir de forma conjunta, todos visando um mesmo resultado.
Pode ser verdadeiramente desafiador abrir mão do paradigma individualista, mas ter a habilidade de relacionar-se bem com todos os que cruzam o seu caminho é uma soft skill que confere maestria a qualquer advogado, pois boa parte deste trabalho, no final do dia, consiste em relacionamento humano.
Todos os problemas que um profissional do direito resolve é sobre humanos. Não podemos perder isto de vista.
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Gestão emocional
As emoções que sentimos promove uma reação química em nosso corpo. Raiva, alegria, medo, orgulho, angústia… Cada uma destas emoções desencadeia, a partir de nosso cérebro, uma série de complexas reações fisiológicas que se espalham por nossa corrente sanguínea.
Não por acaso, as emoções, quando desenfreadas, intoxicam, como explica matéria publicada na BBC. E fica cada vez mais evidente que é impossível nos isolarmos do mundo externo e deixarmos de experienciar qualquer emoção, sejam elas desejáveis ou indesejáveis.
Tradicionalmente, o atual ritmo de vida da sociedade e o ambiente de trabalho se mostram desafiadores no que diz respeito à gestão emocional. E, mais uma vez, no mercado jurídico não seria diferente.
Ao longo de nossas rotinas profissionais, principalmente no meio jurídico, enfrentamos pressões diversas, carga horária pesada, estresse, cobranças, prazos, dentre outros fatores que desencadeiam todos os tipos de emoções mais pesadas. Dedicar um espaço na agenda para aprender a gerir as próprias emoções, através de autocuidado e saúde mental, é uma soft skill essencial ao profissional. A 3º Cartilha de Saúde Mental da Advocacia, publicada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 2021, destaca o assunto e aponta que nos Estados Unidos, 28% da advocacia do país relata depressão, 23% estresse, 21% uso problemático de álcool e 19% ansiedade. Os dados foram apurados no levantamento da American Bar Association.
Como mecanismos e alternativas para gestão emocional e investimento em saúde mental, além de busca de ajuda profissional, destaca-se uma melhora na alimentação, a prática de exercícios físicos, investimento na qualidade do sono e práticas de descontração e meditação.
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Autoconhecimento
Por fim, como uma soft skill estratégica aos advogados de jurídico de fintech, destacamos a capacidade de alocar a consciência sobre si mesmo. Todo o processo de mudança, para ser verdadeiro, precisa partir da pele para dentro, antes de irradiar da pele para fora.
Para ser capaz de evoluir de forma constante no desempenho de suas funções, para apoiar de forma efetiva a empresa para que siga adiante, e para inspirar seu time e liderados, primeiramente o profissional precisa estar ciente de seus limites, de sua zona de conforto, para que possa expandi-los, e de seus desafios e dificuldades, para que possa transmutá-los.
Além disso, o trabalho de autoconhecimento, enquanto lapidação constante daquilo o que somos para que possamos abrir espaço para o que desejamos ser, é uma construção contínua.
Não por acaso, vê-se cada vez mais advogados investindo em atividades, cursos e treinamentos que lhes auxiliem a desenvolver soft skills estratégicas, para melhor inserção em um mercado jurídico em constante desenvolvimento e amplificação do grau de complexidade, volumetria e novidade.
Dúvidas? O time do Silva Lopes Advogados pode te ajudar!
*Lopes é CEO do Silva Lopes Advogados, Branco é sócio de Compliance e Martins é integrante do time do escritório.