Por Tiságoras Mariani, Pedro Branco e Layon Lopes*
As startups são conhecidas pelo elevado apetite de risco de suas tomadas de decisões, pois, em geral, seus empresários possuem como premissa a necessidade de comprovar o modelo de negócio praticado, de maneira enxuta, rentável e escalável. Contudo, é de extrema importância que toda startup, independentemente do seu estágio de desenvolvimento, possua um Plano de Continuidade de Negócios (PCN), garantindo assim a perenidade do seu negócio.
Conteúdo:
O que é PCN?
Qual a importância de um PCN para startups?
Como realizar um Plano de Continuidade de Negócios?
Qual é o caso em que todas as empresas tiveram que adotar esse tipo de plano?
A minha startup é obrigada a realizar um Plano de Continuidade de Negócios?
Existem critérios a serem seguidos ao elaborar um Plano de Continuidade de Negócios?
Caso você nunca tenha ouvido falar sobre o objetivo do presente artigo é apresentar o Plano de Continuidade de Negócios (PCN) para startups.
O que é PCN?
O Plano de Continuidade de Negócios (PCN) é o conjunto de normas, medidas e ações executadas por organizações para garantir o funcionamento das atividades desse negócio independentemente das adversidades que forem enfrentadas. Felipe da Silva conceitua que o objetivo é não permitir a interrupção das atividades do negócio e proteger seus processos críticos contra falhas ou desastres significativos e, caso necessário, assegurar sua retomada em tempo hábil.
Qual a importância de um PCN para startups?
A Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) realizou um estudo indicando as cinco características de um empresário de startups, aos quais se listam abaixo:
- Solução inovadora: A inovação é um diferencial das startups em relação às empresas tradicionais, pois é o que movimenta o rápido crescimento desse modelo de negócio.
- Negócio escalável: A startup precisa produzir um crescimento significativo com mínimo de recursos e estrutura. Sem isso, pode ser definida como pequena ou média empresa.
- Repetível: Para alcançar a escalabilidade, a startup precisa, antes, ter uma solução repetível. Isso significa entregar o mesmo produto ou serviço para muita gente de forma rápida e em larga escala.
- De alto risco: Tirar as ideias do papel envolve riscos, especialmente porque se trata de lidar com coisas novas e incertas. As chances de um produto não dar certo são altas, por isso, é preciso planejamento.
- Equipe dinâmica: Uma empresa não funciona sem as pessoas que nela trabalham, e a personalidade das startups requer uma equipe multidisciplinar que consiga se adaptar às rápidas mudanças e incertezas desse modelo.
Veja que, das características indicadas pelo estudo da UNICAMP, destaca-se o apetite para o alto risco, sendo ressaltada a necessidade de planejamento para as tomadas de decisões.
É nessa linha, portanto, que o Plano de Continuidade de Negócios se torna fundamental para startups – seja qual for o modelo de negócio, como softwarehouse ou fintech. Por se tratar de uma característica inerente do mercado de tecnologia o apetite para risco, por consequência há um investimento financeiro e de pessoas na consolidação do objetivo da empresa, que é o oferecimento de uma solução inovadora para determinado segmento.
Desta forma, se a empresa possui um Plano de Continuidade de Negócios estruturado, reduz os riscos fatais do seu negócio e aumenta as chances da empresa manter-se ativa em caso de alguma adversidade encontrada, transparecendo a imagem ao mercado de que a empresa é organizada, segura e pronta para enfrentar todas as situações que venha a enfrentar.
Como realizar um Plano de Continuidade de Negócios?
Para a elaboração de um Plano de Continuidade de Negócios eficaz, a startup deverá adotar os seguintes pontos:
- Operações essenciais: o primeiro passo que a startup deverá adotar para elaboração de um Plano de Continuidade de Negócios é a definição das operações essenciais, ou seja, aquelas atividades da empresa que não podem parar em qualquer hipótese e/ou situação adversa encontrada. É importante frisar que esse mapeamento é 100% personalizado, ou seja, não existe um modelo a ser seguido porque cada startup possui a sua história e o seu modelo de negócio.
- Plano de Comunicação: o segundo passo que a startup deverá adotar é a elaboração do Plano de Comunicação, para que, no momento de crise ou adversidade encontrada pela empresa, todos os integrantes saibam, exatamente, o que precisa ser feito. É de conhecimento comum que, em momentos conturbados, as pessoas fiquem inseguras com as medidas que devem ser adotadas, gerando uma animosidade coletiva, e é por isto que o plano de comunicação deve ser realizado para que os profissionais capacitados possam executar o plano conforme previsto, atenuando os impactos da crise enfrentada. Em resumo: o plano de comunicação é o roteiro de i) o que fazer; e ii) quem precisa ser comunicado para que as medidas necessárias sejam adotadas.
- Gerenciamento de crise: o terceiro passo que a startup deverá adotar em seu Plano de Continuidade de Negócios é gerenciar a crise enfrentada para que a normalidade volte ao mais rápido possível. É comum que as empresas adotem como medida a constituição de uma Comitê de Crise, em que os integrantes participantes serão designados para gerenciar a crise enfrentada.
- Transparência: é fundamental que, no momento que a startup estiver passando por um momento de crise, este fato seja comunicado para todos os colaboradores, para que todos estejam na mesma página sobre o que deve ser feito durante o período. É um erro muito comum cometido pelas empresas que possuem o receio de, ao transparecer aos funcionários, gerar pânico.
- Teste: Para que o Plano de Continuidade de Negócios seja efetivo, a startup precisa testá-lo, pois somente colocando o plano em prática será percebido falhas, itens de melhoria e o nível de compreensão da empresa com o que precisa ser realizado. O ideal é que a empresa realize, no mínimo, uma vez ao ano uma simulação de crise.
Qual é o caso em que todas as empresas tiveram que adotar esse tipo de plano?
O exemplo mais fácil de citar ao referirmos no Plano de Continuidade de Negócios para startups foi a pandemia de Covid-19, em que as empresas tiveram que adotar, em poucos meses, uma série de medidas que visavam a sua sobrevivência durante o período, como a adoção do regime de teletrabalho para todos os colaboradores em questão de poucos dias.
Sabemos que a pandemia de covid-19 foi fatal para muitas empresas – principalmente para àquelas que já não estavam bem antes do seu início -, o que demonstra como é importante a startup, que por natureza é adepta ao alto risco, possuir um PCN.
A minha startup é obrigada a realizar um Plano de Continuidade de Negócios?
Se a sua startup é uma fintech regulada pelo Banco Central do Brasil (Bacen), Comissão de Valores Imobiliários (CVM) ou a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), por exemplo, é possível que exista uma obrigação regulatória de possuir Plano de Continuidade de Negócios, visto que uma eventual adversidade pode afetar não apenas a empresa, como também os usuários e operações vinculadas ao funcionamento do sistema da sua startup.
A propósito, se a sua startup for uma instituição de pagamento que precisa compreender o funcionamento das rotinas regulatórias, não deixe de conferir o nosso artigo sobre o tema.
Ainda, se você deseja saber se a sua empresa precisa seguir alguma regulamentação, recomenda-se que seja consultada uma assessoria em compliance corporativo.
Existem critérios a serem seguidos ao elaborar um Plano de Continuidade de Negócios?
Sim. Atualmente, o Plano de Continuidade de Negócios precisa seguir a ISO 22301, que conforme descreve a BSI, especifica os requisitos para que um sistema de gestão não apenas proteja os seus negócios contra incidentes inoportunos, mas também reduza as possibilidades destes ocorrerem e garanta que a sua empresa se recupere, caso aconteçam.
Portanto, se a startup realiza o Plano de Continuidade de Negócio e conquista a certificação ISO 22301, além da segurança almejada, promoverá novas oportunidades para negócios, desde relações comerciais até mesmo operações de investimento, como M&A.
Em operações de investimento, o investidor ou comprador precisa conhecer a sua aposta, o que é realizado através de um processo de due diligence.
Logo, havendo um plano de continuidade de negócios, a startup demonstrará ao investidor que está capacitada para enfrentar quaisquer adversidades que venha a enfrentar, sendo, portanto, uma mensagem ao investidor ou comprador de que a startup é segura.
Portanto, é fundamental que uma startup realize o seu Plano de Continuidade de Negócios, pois além da segurança de que adversidades serão lidadas de forma organizada (e prevista), demonstra ao mercado o seu potencial organizacional para realização de relações comerciais e de investimento. Para isto, é necessário que a startup consulte profissionais capacitados para auxiliá-la nessa jornada.
*Lopes é CEO do Silva Lopes Advogados, Branco é sócio de Compliance e Mariani é integrante do time do escritório.